FONTE: CNN BRASIL

310 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Em São Paulo, já são mais de 71 mil óbitos na pandemia. É nesse cenário que a médica Carolina de Paula Penteado Becker, 38 anos, casada e mãe de três crianças, se dirige ao hospital onde é supervisora do pronto-socorro.

Ela sai de Arujá, município da grande SP onde mora, às 6h da manhã. Pouco depois de entrar no carro, ela para, coloca uma música instrumental tranquila e faz uma prece. Segundo ela, é um acordo que tem com Deus. “Eu peço que ele [Deus] cuide dos meus filhos, da minha família, e eu cuido dos pacientes. A gente tá vivendo um momento que precisa suportar tudo e todo mundo. As pessoas estão extremamente instáveis emocionalmente”, explicou.

Menos de uma hora depois, a médica chega ao hospital Santa Marcelina, na zona leste da capital paulista. Sem folgar há duas semanas e trabalhando de 10 a 12 horas por dia na linha de frente do atendimento aos pacientes com Covid-19, a rotina começa assim que encontra os colegas enfermeiros e médicos. Depois de cumprimentos, as perguntas diárias: como estão as coisas? Como foi a madrugada? Ao saber o número de internados e a quantidade de leitos, o alerta é ligado.

Além de atender os pacientes, coordenar a equipe e os setores do PS estão entre as principais funções da Dra. Carolina.

Antes de se concentrar na pandemia, ela passa no setor onde estão internados pacientes não contaminados com o novo coronavírus. Depois de ver a situação de todos, o foco muda para o novo coronavírus.

Na área de Covid-19, a primeira parada é no setor vermelho. “Aqui é a emergência Covid, a porta de entrada de todos os pacientes internados”, disse.

Uma mulher de 52 anos com dificuldade para respirar preocupa a equipe médica. Rapidamente, a Dra. Carolina decide que a paciente precisa ser intubada. Ela é transferida e a intubação começa no setor crítico 3. Durante o procedimento, o quadro piora. O clima é tenso, mas a situação é estabilizada.

De acordo com a médica, com a segunda onda do novo coronavírus, o ritmo de trabalho está muito mais intenso. “A gente não tem horário para chegar e nem horário pra sair. Tudo depende do que acontecer no dia. Eu tinha o propósito de não trabalhar final de semana, mas nas últimas semanas estou trabalhando todos os dias”, disse.

Além do cansaço, o desgaste emocional também atinge os profissionais. Para a enfermeira Joyce Pereira dos Santos, alguns casos mexem e são difíceis de esquecer. “Tá muito difícil, muito triste, desgastante. Quando acaba o plantão, eu tento deixar as coisas aqui. Não é sempre que eu consigo, não é fácil, mas eu tento deixar aqui, encerrar o plantão aqui, para não levar pra casa.”

As equipes dedicadas a salvar vidas também adoecem. O doutor Rafael, médico no Hospital das Clínicas de São Paulo, sentiu a pressão psicológica da pandemia. “Foram plantões bem caóticos, atrapalhou nosso ciclo de sono, tinha dificuldade para dormir. Tinha sempre essa angústia em lidar com o inesperado. Fiquei mais inquieto, mais agressivo. A auto-reflexão disso demorou para vir”, disse.

Em meio a tanto estresse, o tratamento para saúde mental foi encontrado por ele no EMDR, uma terapia comportamental que surgiu na década de 1980 e foi testada em veteranos de guerra. No Brasil, uma rede com 160 psicólogos está oferecendo o serviço gratuito para os profissionais de saúde.

“Nós, com os profissionais da saúde, fazemos um programa de 8 a 10 sessões, onde vamos fazer um levantamento das experiências traumáticas que esses profissionais viveram e fazemos o reprocessamento com a terapia EMDR. Fazemos o processamento usando a estimulação cerebral para que a pessoa possa reprocessar os eventos traumáticos de uma maneira funcional”, explicou a psicóloga Ana Lúcia Castelo.

Após 12 horas, chega ao fim o dia de trabalho no hospital da Dra. Carolina. “Graças a Deus, deu tudo certo. A gente conseguiu os leitos que precisava. E agora vou pra casa tranquila que a gente fez tudo que era possível”, disse.